Sopa de Pedra

Tive uma infância perfeita. Uma infância que infelizmente meu filho não vai poder ter. De ficar na rua brincando até tarde. Sem ninguém ter que vigiar. De esperar o fim de semana só para poder inventar mil brincadeiras divertidas.

Minha infância foi toda na Rua 7. Eu morava na 8, mas todos os meus amigos moravam na rua de cima. Então, quando a meninada não ia para minha casa, eu que subia e tinha meus momentos de lazer.

Na minha casa, brincávamos de Barbie, de fazer imitações, de nos fantasiar. De escolinha, de culinária, de amarelinha (meu pai pintou uma no nosso quintal)... Na rua 7, na casa da minha prima Janina, ficávamos a tarde inteira lendo gibi da Turma da Mônica, brincávamos de patinete, de bicicleta, de casinha... De fazer comidinha de terra e pedra e uma das coisas mais legais: de teatro.

Dividíamos os grupos e cada um tinha que representar alguma história que já existia ou que tinha acabado de inventar. Eu amava ficar no grupo da minha prima, sempre fazíamos as melhores histórias, era o grupo mais legal.

Um dia, resolvemos apresentar na rua o teatro "Sopa de Pedra", a história do espertalhão que estava fazendo sopa apenas com pedras e como era bom de lábia, convenceu os vizinhos a doarem "o restante" dos ingredientes para ele. Conseguiu batata, cenoura, repolho, cebola e carne. No final, ele retirava as pedras da panela e tomava a melhor sopa de todas. A sopa de pedra era uma fraude!!!

Foi um sucesso a apresentação. Apresentamos a "peça" mais umas vezes e até hoje guardo na minha memória aquele bando de criança, sentada no meio fio, sob a luz do poste, sem tomar banho e sem comer a tarde inteira, mas se esbaldando de tanto rir e brincar.

Era bom de verdade.

Esse é apenas um capítulo da minha infância. Feliz infância.

(Quem brincava: Eu, Janina, Talita, Rodrigo, Josiane, Vívian, Joyce, Marto, Roberlayne...)